AULA – 14/03
INTRODUÇÃO
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Leonardo da Vinci - A Madona do Cravo |
Renascimento é o nome que se dá ao período que vai do final do século
XV ao XVI. Fundamentado no conceito de que
o homem é a medida de todas as
coisas (
Antropocentrismo), significou um
retorno às formas e proporções da antiguidade
greco-romana. Este movimento artístico começou a se manifestar na Itália, mais
precisamente em Florença, cidade que a essa altura já tinha se tornado um
estado independente e um dos centros comerciais mais importantes do mundo.
Em poucos anos, o renascimento difundiu-se pelas demais
cidades italianas (período conhecido como quattrocento), para se estender pouco
a pouco, em fins do século XV, ao resto do continente europeu, no chamado
cinquecento, ou renascimento clássico. As bases desse movimento eram
proporcionadas por uma corrente filosófica reinante, o humanismo, que
descartava a escolástica medieval (doutrina e método de ensino das escolas medievais europeias), até então reinante, e propunha o retorno às
virtudes da antiguidade (nesse período a antiguidade a que se referiam era o período clássico grego e romano).
Platão, Aristóteles, Virgílio, Sêneca e outros autores
greco-romanos começam a ser traduzidos de volta e rapidamente difundidos. Desse modo, o "espírito" da antiga filosofia clássica não leva muito tempo para inundar as
cortes da nova aristocracia burguesa. O cavalheiro renascentista deve agora ser
versado em todas as disciplinas artísticas e científicas, como recomenda um dos
livros fundamentais da época, O Cortesão, de Baldassare Castiglione.
Imbuídas desse espírito, as famílias abastadas não hesitaram
em atrair para seu mundo artistas de grande renome, aos quais deram seu apoio,
tornando-se, afinal, seus mecenas (sustentadores, financiadores, mantenedores). Músicos, poetas, filósofos, escultores,
pintores, ourives e arquitetos saíram do anonimato imposto pelo período
medieval e viram crescer seu nome e sua fama, juntamente com a de seus
clientes. No norte da Europa, o pensamento humanista já tinha dado seus
primeiros passos significativos.
Foi graças ao reformador Lutero e às universidades, por
intermédio do estudo das ciências exatas e da filosofia, que se difundiram as
idéias de seus pares italianos. Por volta do fim do século XV, chegava da
Espanha a notícia do descobrimento de um novo continente, a América, fato que
mudaria a fisionomia do mundo para sempre. O homem se distanciava assim, de
modo definitivo, do período medieval para decididamente ingressar na
modernidade (modernidade nesse caso trata-se de uma era histórica, não do movimento modernista das artes que acontecerá entre o final do séc. XIX e início do XX).
PINTURA
Até o advento do renascimento, só era possível, na pintura,
transpor para a tábua ou para a parede duas dimensões: comprimento e largura.
Era impossível captar no plano a profundidade, a luz ou o volume. É por esse
motivo que a
perspectiva, tanto aqui quanto na arquitetura, passa a ser um
elemento de fundamental importância. Graças e ela os pintores renascentistas
conseguem criar o que até então era inconcebível: a ilusão de espaços "reais" sobre uma
superfície plana.
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Sandro Botticelli - Primavera |
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Fra Angélico - Anunciação |
As figuras,
dispostas numa composição estritamente
simétrica, a
variação de cores frias e
quentes e o
manejo da luz permitem criar
distâncias e volumes que parecem ser
copiados da realidade. A reprodução da figura humana, a expressão de suas
emoções e o movimento ocupam lugar igualmente preponderante. Os temas a
representar continuam sendo de caráter predominantemente religioso, mesmo que,
agora, com a inclusão de um novo elemento..., a burguesia, que queria ser
protagonista da história do cristianismo. Contudo surgem temas ligados à filosofia e mitologia.
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Rafael Sanzio - A Escola de Atenas - 1509-1511 |
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Sandro Botticelli - O Nascimento de Vênus |
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Michelangelo - A criação de Adão - Capela Sistina / Vaticano |
Não é de admirar,
portanto, que as pessoas se façam retratar junto com a família numa cena do
nascimento de Cristo, ou ajoelhadas ao pé da cruz, ao lado de Maria Madalena e
da Virgem Maria. Até mesmo os representantes da Igreja se rendem a esse curioso
costume. Muito diferentes no espírito, embora nem por isso menos valiosos, são
os resultados obtidos paralelamente nos países do norte.
Os mestres de Flandres (região ao norte da Belgica), deixando de lado as medições e a
geometria e recorrendo à
câmara escura, também conseguem criar espaços reais no
plano, embora sem a precisão dos italianos. A ênfase é colocada na tinta (
são
eles os primeiros a utilizar o óleo) e na reprodução do natural de rostos,
paisagens, fauna e flora, com um cuidado e uma exatidão assombrosos, o que
acabou resultando naquilo a que se deu o nome de
Janela para a Realidade.
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Câmara Escura |
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Van Eyck - Casal Arnolfini |
ESCULTURA
Na escultura renascentista, desempenham um papel decisivo o
estudo das proporções antigas e a
inclusão da perspectiva geométrica. As figuras, até então relegadas ao plano de meros elementos decorativos da arquitetura, vão adquirindo pouco a pouco total independência. Já desvinculadas da parede, são colocadas em um nicho, para finalmente mostrarem-se livres, apoiadas numa base que permite sua observação de todos os ângulos possíveis.
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Michelangelo -Pietà 1498-1499 - Basílica de São Pedro |
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Michelangelo - Moises |
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Brunelleschi |
Donatello - Estatua Equestre
O estudo das
posturas corporais traz como resultado esculturas que se sustentam sobre as
próprias pernas, num equilíbrio perfeito, graças à posição do compasso (ambas as pernas abertas) ou do contraposto (uma perna na frente e a outra, ligeiramente para
trás). As vestes reduzem-se à expressão mínima, e suas pregas são utilizadas apenas
para acentuar o dinamismo, revelando uma figura humana de músculos levemente
torneados e de proporções "perfeitas".
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Escultura em alto-relevo de Donatello |
Outro gênero dentro
da escultura que também acaba sendo beneficiado pela aplicação dos
conhecimentos da perspectiva é o baixo-relevo (escultura sobre o plano).
Empregando uma técnica denominada schiacciato. Donatello posiciona suas figuras
a distâncias precisas, de tal maneira que elas parecem vir de um espaço interno
para a superfície, proporcionando uma ilusão de distância, algo inédito até
então.
Desse modo, ao
mesmo tempo que se torna totalmente independente da arquitetura, a escultura
adquire importância e tamanho. Reflexo disso são as primeiras estátuas
eqüestres que dominam as praças italianas e os grandiosos monumentos funerários
que coroam as igrejas. Pela primeira vez na história, sem necessidade de
recorrer a desculpas que justificassem sua encomenda e execução, a arte adquire
proporções sagradas.
ARQUITETURA
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Capela Sistina - Vaticano |
Os arquitetos do
renascimento conseguiram, mediante a medição e o estudo de antigos templos e
ruínas, assim como pela aplicação da perspectiva, chegar à conclusão de que uma
obra arquitetônica completamente diferente da que se vira até então não era
nada mais que pura geometria euclidiana. O módulo de construção utilizado era o
quadrado, que aplicado ao plano e ao espaço deu às novas edificações proporções
totalmente harmônicas.
As ordens gregas de colunas substituíram os intermináveis
pilares medievais e se impuseram no levantamento das paredes e na sustentação
das abóbadas e cúpulas. São três as ordens mais utilizadas: a dórica, a jônica
e a coríntia, originadas do classicismo grego. A aplicação dessas ordens não é
arbitrária. Elas representam as tão almejadas proporções humanas: a base é o
pé, a coluna, o corpo, e o capitel, a cabeça.
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Cruz Latina |
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Cruz Grega |
As primeiras igrejas do renascimento mantêm a forma da cruz
latina, o que resulta num espaço visivelmente mais longo do que largo.
Entretanto, para os teóricos da época, a forma ideal é representada pelo plano
centralizado, ou a
cruz grega, mais freqüente nas igrejas do renascimento
clássico. As obras da arquitetura profana, os palácios particulares ou
comunais, também foram construídas com
base no quadrado.
Vistos de fora, esses palácios se apresentam como cubos
sólidos, de tendência horizontal e com não mais de três andares, articulados
tanto externa quanto internamente por colunas e pilares. Um pátio central,
quadrangular, tem a função de fazer chegar a luz às janelas internas. A parede
externa costuma receber um tratamento rústico, sendo a almofadilha (parte lateral do capitel jônico) mais leve
nos andares superiores
A ordem das colunas varia de um andar para outro e costuma
ser a seguinte: no andar térreo, a ordem toscana, uma variante da arquitetura
romana, no pavimento principal, a jônica, e no superior, a coríntia. A divisão
entre um nível e outro é feita por diferentes molduras e uma cornija (moldura de arremate na parte superior dos edifícios que impedia que a água escorresse pelas paredes e escondia o telhado) que se
estende por todo o piso de cada andar, exatamente abaixo das janelas. Têm
geralmente forma retangular e são coroadas por uma finalização em arco ou triângulo.
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Cúpula de Santa Maria Del Fiore |
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Santa Maria Del Fiore |