AULA 30/05
INTRODUÇÃO
Durante a segunda metade do século XIX, as revoluções burguesas triunfaram em grande parte do mundo ocidental, e impuseram-se sistemas de governo mais democráticos. Além das mudanças de ordem política, houve transformações decisivas na percepção do mundo e nas relações humanas.
A revolução industrial, iniciada em meados do século XVIII na Inglaterra, causou profundas transformações nos modos de vida. O desenvolvimento industrial afetou a economia, ao mesmo tempo em que ocorria um intenso crescimento demográfico. Os meios de transporte e de comunicação (trem, barco a vapor, telégrafo) aperfeiçoaram-se de maneira assombrosa.
Claude Monet - Mulher com sombrinha
1875 - 100 x 82 cm - Óleo sobre tela
|
O crescimento desmedido das cidades resultou da industrialização, e a multiplicação de notícias e imagens surgiu com o fortalecimento da imprensa e a invenção da fotografia.
Em Paris, em 1874, um grupo de pintores independentes – entre eles Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Alfred Sisley, Edgar Degas, Paul Cézanne, Camille Pissarro e Berthe Morisot – organizou a primeira exposição do grupo no estúdio do fotógrafo Félix Nadar e no café Guerbois (onde os pintores se reuniam). Ao ver a obra de Claude Monet, “Impressão, Sol Nascente”, Louis Leroy escreve e publica na revista Le Charivari uma crítica à tela de Claude Monet e também à arte impressionista. Começou sarcasticamente a chamar esses artistas de impressionistas, os artistas, no entanto assumiram esta nomenclatura, porém não com o sentido pejorativo dado por Louis Leroy.
Daí em diante recebe o nome de impressionismo a corrente artística que surgiu na França, principalmente na pintura, por volta do ano de 1870. Esse movimento, de cunho anti-academicista, propôs o abandono das técnicas e temas tradicionais, saindo dos ateliês iluminados artificialmente para registrar ao ar livre a natureza, tal como ela se mostrava aos seus olhos, segundo eles, como uma soma de cores fundidas na atmosfera. Assim, o nome impressionismo não foi casual.
O impressionismo não foi um grupo homogênio, e os termos “impressionista” e “impressionismo” difundiram-se a partir da segunda mostra coletiva desse grupo de artistas independentes, em 1876.
Apesar de criticados, recusados nos Salões oficiais e incompreendidos pela Academia de Arte (que não conseguia compreender e aceitar suas obras, nos quais estranhavam a ausência do trato acadêmico e dos temas tradicionais), as exposições de suas obras criavam uma expectativa muito grande nos círculos intelectuais de Paris.
São duas as fontes mais importantes do impressionismo: a fotografia e as gravuras japonesas (ukiyo-e). A primeira alcançou o auge em fins do século XIX e se revelava o método ideal de captação de um determinado momento, o que era uma preocupação principalmente para os impressionistas. As segundas, introduzidas na França com a reabertura dos portos japoneses ao Ocidente, propunham uma temática urbana de acontecimentos cotidianos, realizados em pinturas planas, sem perspectiva.
Os representantes mais importantes do Impressionismo na Europa foram: Edouard Manet (1832-1883), Claude Monet (1840-1926), Pierre-Auguste Renoir(1841-1919), Edgar Degas (1834-1917), Camille Pissarro (1830-1903) e Alfred Sisley (1839-1899). No restante da Europa isso ocorreu posteriormente. Ao impressionismo seguiram-se vários movimentos, representados por pintores igualmente importantes e com teorias muito pessoais, como o pós-impressionismo (Van Gogh, Cézanne), o simbolismo (Moreau, Redon), e o fauvismo (Matisse, Vlaminck, Derain, entre outros) e o retorno ao princípio, ou seja, à arte primitiva (Gauguin) que era também considerada um tipo de fauvismo. Todos apostavam na pureza cromática, sem divisões de luz (em muitos casos refere-se também à utilização de cores puras para representar a luz).
NOTA
A cultura japonesa era desconhecida no Ocidente na época dos impressionistas. A influência de suas obras artísticas teve início em meados do século XIX com exposições que aconteceram na Europa, em especial na Inglaterra e na França. As gravuras japonesas foram muito admiradas por impressionistas como Manet e Degas e tiveram grande impacto em suas obras. Mais tarde, elas também influenciaram o trabalho de Van Gogh, artistas pós-impressionistas. Essa influência da arte japonesa no trabalho de artistas ocidentais recebeu o nome de japonismo.
MANET E AS ORIGENS DO IMPRESSIONISMO
A origem do Impressionismo data dos anos de 1860, quando, em Paris, vários amigos que eram pintores passaram a retratar a realidade que os rodeava a partir das sensações visuais, traduzidas na tela por pinceladas rápidas.
Eles abriram mão de retratar grandes temas históricos e mitológicos, impostos pela pintura oficial, mais distantes do cotidiano do artista e do espectador/consumidor de arte e passaram a retratar a vida das ruas e dos lugares de lazer – bares, cafés, cabarés -, tanto na capital quanto no interior. Os artistas pintavam os jardins de suas casas e os caminhos e paisagens dos arredores delas.
Sem seguir a “cartilha” da pintura oficial, eles foram marginalizados pela estrutura artista estatal francesa, que selecionava as obras a ser admitidas nos salões.
A desconexão desses artistas com a arte oficial e as afinidades que mantinham entre si os agruparam em torno de Édouard Manet, o mais velho deles. Foi Manet quem empreendeu o esforço inicial para diminuir a importância dos temas nas pinturas e a valorização da pintura em si, por seus efeitos. É o início do que ficou conhecido como “a arte pela arte”.
De sólida formação cultura e fina ironia, Édouard Manet revelou as contradições que pesavam sobre a suposta valorização artista das pinturas enviadas aos salões, sempre dependentes de questões morais e da rigidez dos temas ditados pelo sistema. Em 1863, sua tela Almoço na relva foi rejeitada pelo júri do Salão Oficial, classificada como obcena, tornando-se a peça simbólica do Salão dos Rejeitados.
A razão da recusa da tela pela Academia teve fundo moral: Manet retratara uma dupla de aristocratas, usando roupas contemporâneas, fazendo um piquenique na relva do parque ao lado de uma mulher nua. Ao fundo, outra moçam, em trajes íntimos (um vestido de se usar por baixo do vestido de passeio social) banhava-se no lago. Até então, a representação da nudez em uma obra de arte só era admitida quando representada em um tempo e espaços distantes e/ou mostrando personagens abstratos como Afrodite – a deusa da beleza, Hércules – herói da mitologia grega ou Adão e Eva no paraíso. No caso da pintura de Manet a imagem mostrava pessoas reais da sociedade daquele período, ainda que os corpos estivessem cobertos.
A própria escultura deste período também pode ser considerada impressionista, já que, de fato, os escultores tentaram uma nova maneira de plasmar a realidade. É o tempo das esculturas inacabadas de Rodin, inspiradas em Michelangelo, e dos esboços dinâmicos de Carpeaux, com resquícios do rococó. Já não interessava a superfície polida e transparente das ninfas delicadas de Antonio Canova (artista neoclássico). Tratava-se de desnudar o coração da pedra para demonstrar o trabalho do artista, novo personagem da estatuária.
NOTA
O Salão da Real Academia Francesa de Pintura e Escultura era a única exposição oficial da França. Em 1863, para entender aos pedidos dos artistas que tiveram suas obras rejeitadas pelo Salão Oficial, Napoleão III mandou organizar uma exposição paralela, em Paris, intitulada Salão dos Rejeitados. Essa mostra passou a concorrer com a do Salão oficial e tornou-se um marco do Impressionismo.
PINTURA
O que mais interessou aos pintores impressionistas foi a captação momentânea da luz na atmosfera e sua influência nas cores. Os artistas desse movimento produziram obras a partir da impressão visual imediata do cenário ou objeto observado, em outras palavras, queriam representam a real impressão do olho ao observar um objeto ou cena real, estando diante dela, e não inventando o ambiente em ateliê. Procuravam pintar ao ar livre, sem fazer rascunhos – pintavam diretamente na tela, com pinceladas soltas e cores puras, misturando as cores na própria tela e não as preparando previamente. Eram conduzidos pela percepção imediata, intuição, sentidos e resultados que a obra apresentava na medida em que era elaborada. Já não existiam a linha, ou os contornos, nem tampouco a perspectiva, a não ser a que lhes fornecia a disposição da luz. A poucos centímetros da tela, um quadro impressionista é visto como um amontoado de manchas de tinta, ao passo que à distância as cores se organizam opticamente e criam formas e efeitos luminosos.
Os primeiros estudos sobre a incidência da luz nas cores foram realizados pelo pintor Corot, modelo para muitos impressionistas e mestres da escola de Barbizon. Tentando plasmar as cores ao natural, os impressionistas começaram a trabalhar ao ar livre para captarem a luz e as cores exatamente como elas se apresentam na realidade. A temática de seus quadros se aproximava mais das cenas urbanas em parques e praças do que das paisagens, embora cada pintor tivesse seus motivos (temas) prediletos.
Reunidos em Argenteuil (região da França), Manet, Sisley, Pissarro e Monet fizeram experiências principalmente com a representação da natureza por meio das cores e da luz. Logo chegaram à expressão máxima do pictórico (a cor) diante do linear (o desenho). Como nunca, a luz tornou-se protagonista e atingiu uma solidez ainda maior do que a que se vê nos quadros de Velázquez (pintor barroco), nas pinceladas truncadas e soltas de Hals ou no colorido de Giorgione, reinterpretada de modo inteiramente antiacadêmica.
Mais tarde surgiriam os chamados pós-impressionistas, que não formaram nenhum grupo concreto e cujos trabalhos eram bem mais diferenciados: Cézanne e seu estudo dos volumes e formas puras (considerado um pré-cubista); Seurat, com seu cromatismo científico (pontilhismo); Gauguin, cujos estudos sobre a cor precederam os fauvistas; e Van Gogh, que introduziu o valor das cores como força expressiva do artista.
O líder do grupo fauvista foi Matisse, que partiu do estudo dos impressionistas e pós-impressionistas, de quem herdou sua obsessão pela cor. Junto com ele, Vlaminck e Derain, o primeiro totalmente independente e fascinado pela obra de Van Gogh, e o segundo a meio caminho entre os simbolistas e o realismo dos anos 20. O grupo se completava com os pintores Dufy, Marquet, Manguin, Van Dongen e um Braque pré-cubista. Esse movimento chegou ao ápice em 1907.
ESCULTURA
A exemplo da pintura, a escultura do fim do século XIX tentou renovar totalmente sua linguagem. Foram três os conceitos básicos dessa nova estatuária: a fusão da luz e das sombras, a ambição de obter estátuas visíveis a partir do maior número possível de ângulos e a obra inacabada, como exemplo ideal do processo criativo do artista. Os temas da escultura impressionista, como de resto da pintura, surgiram do ambiente cotidiano e da literatura clássica em voga na época.
Rodin e Hildebrand foram, em parte, os responsáveis por essa nova estatuária. O primeiro com sua obra e o segundo, com suas teorias. Igualmente importantes foram as contribuições do escultor Carpeaux, que retomou a vivacidade e a opulência do estilo rococó, mas distribuindo com habilidade luzes e sombras. A aceitação de seus esboços pelo público animou Carpeaux a deixar sem polimento a superfície de suas obras, o que foi depois fundamental para as esculturas inacabadas de Rodin.
Auguste Rodin - O Pensador - 1904 |
Rodin considerava O Escravo, que Michelangelo não terminou, a obra em que a ação do escultor melhor se refletia. Por isso achou tão interessantes os esboços de Carpeaux, começando então a exibir obras inacabadas. Outros escultores foram Dalou e Meunier, a quem se deve a revalorização dos temas populares. Operários, camponeses, mulheres realizando atividades domésticas, todos faziam parte do novo álbum de personagens da nova estética.
RESUMO
1- Nas últimas décadas do século XIX, vários acontecimentos mudaram o rumo da sociedade:
-a Revolução Industrial estabeleceu novas relações sociais, econômicas e culturais na Europa;
-a tecnologia emergente trouxe importantes reflexões acerca da produção artística desse período;
-os impressionistas fizeram sua primeira exposição propondo um rompimento com a estética da Academia de Arte e suas regras, rejeitando as exigências dos Salões oficiais e apresentando uma arte inovadora que se preocupava em captar os efeitos da luz e produzia temas cotidianos corriqueiros;
-Paris tornou-se o centro das artes; nasceu o debate sobre a criação e o mercado de arte de colecionadores.
2- O aparecimento do Impressionismo foi acompanhado por uma série de circunstâncias:
-Reação contra os conteúdos da pintura dos salões oficiais, que defendiam a aplicação de uma espécie de receituário histórico-artístico (técnicas e modos de produção já consagrados e tradicionais), em detrimento da priorização dos valores intrínsecos da expressão artística (a livre expressão, a criatividade, os efeitos visuais dos materiais utilizados dentre outros)
-Consciência da fugacidade da vida moderna, aparentemente um contínuo devir (expectativa de constante pelo futuro) dominado por sensações.
-Experiências ópticas diversas, que os pintores usaram intuitivamente, como os efeitos que produzem determinadas cores ao lado de outras. Essa mistura de cores, quando contemplada a distância, pode criar a ilusão de volume ou de ligeiro movimento na tela.
-Inovações técnicas nos materiais usados pelos pintores, como novos tecidos industriais para as telas e tubos de tintas portáteis, com os pigmentos de cor prontos para uso, sem que o artista precisasse prepará-los. Além de cores mais vivas, a tinta industrializada permitiu mais materialidade na superfície da pintura, que ganhou grossas camadas.
-Com a invenção da fotografia e o amadurecimento das experiências em virtude da nova técnica pictórica, ampliou-se a possibilidade de vários enquadramentos em um mesmo plano, o que pôs em xeque a pintura tradicional.
- A chegada de estampas japonesas à Europa difundiu um olhar muito diferente do ocidental para a perspectiva – nessas imagens, o espaço é plano e há um gosto bastante diferente para as cores vivas e luminosas. É importante notar que o japonismo não deve ser considerado uma mera cópia da arte japonesa, mas uma fusão entre as culturas oriental e ocidental que possibilitou a evolução nas artes do final do século XIX e começo do século XX, ao ser utilizado pelos artistas como um meio de reagir contra as imposições acadêmicas.