AULA 26/09
MANIFESTO ANTROPOFÁGICO
Figura: Recorte do desenho Antropofagia feito por Tarsila do Amaral para o Manifesto Antropofágico de 1928 |
Só a
antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do
mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is
the question.
Contra todas
as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me
interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos
fatigados de todos os maridos católicos suspeitos postos em drama. Freud acabou
com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
O que
atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o
mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol,
mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da
saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra
grande.
Foi porque
nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o
que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçoso no mapa-múndi
do Brasil.
Uma
consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos
os importadores de coincidência enlatada. A existência palpável da vida. E a
mentalidade pré-lógica para Sr. Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a
Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as
revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua
pobre declaração dos direitos humanos.
A idade de
ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
Filiação. O
contato com o Brasil Caraíba. Ori
Villegaignon print terre. Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da
Revolução Francesa ao Romanatismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução
Surrealista e ao bárbaro tecnizado keyserling. Caminhamos.
Nunca fomos
catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na
Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca
admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra Padre
Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para pagar comissão. O
rei-analfabeto dissera-lher: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o
empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal
e nos trouxe a lábia.
O espírito
recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da
vacina antropofágica contra as religiões do meridiano. E as inquisições
exteriores.
Só podemos
atender ao mundo orecular.
Tínhamos a
justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia.
A transformação permanente do Tabu em totem.
Contra o mundo
reversível e as ideias objetivas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é
dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das
injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros,
Roteiros, Roteiros, Roteiros, Roteiros, Roteiros, Roteiros.
O instinto
Caraíba.
Morte e vida
das hipóteses. Da equação eu parte do
Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu.
Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.
Contra as
elites vegetais. Em comunicação com o solo.
Nunca fomos
catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império.
Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos
portugueses.
Já tínhamos o
comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.
Catiti Catitit
Imara Notiá Notiá Imara Ipeju.
A magia e a
vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais,
dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de
algumas formas pragmáticas.
Perguntei a um
home o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da
possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o.
Só não há
determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
Oswald de Andrade -
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