quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O MODERNISMO NO BRASIL


O MODERNISMO NO BRASIL

INTRODUÇÃO

Convivendo com diversas tendências do final do século XIX e as vanguardas europeias do início do século XX, o Pré-Modernismo ajudou a direcionar a mentalidade brasileira para a modernidade artística. O Movimento Moderno brasileiro teve início quase cinco anos antes da Semana de Arte Moderna, com uma exposição de Anita Malfatti, que conheceu a arte de vanguarda na Europa e nos Estados Unidos.

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Anita Malfatti - A Boba - 1915-16 - Pintura produzida durante a estada da artista nos Estados Unidos
            No início do século XX, o Brasil clamava por uma renovação. Esse desejo de transformação e, principalmente, de modernização do país resultou na Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo em 1922. O escritor, editor e pintor Monteiro Lobato, uma das principais figuras do período, dedicou-se a pensar sobre os problemas de desenvolvimento do país. Inicialmente realizou um “diagnostico moral” do brasileiro, caracterizado, por ser personagem Jeca Tatu, que contava com notável indisposição para o trabalho. Essa avaliação será reelaborada durante toda a década de 1920, como necessidade de modernização econômica e tecnológica. O Jeca Tatu dá vida à obra Urupês, de Lobato, publicada em 1918. Segundo o autor, o “tipo jeca” seria o responsável pelo atraso do país.
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Retrato do cartaz original da Semana de Arte Moderna de 1922
‘           A partir de então, o personagem caipira Jeca Tatu tornou-se um polêmico emblema da identidade nacional, cuja tradição criou outros tipos (na literatura) para representar aspectos dessa realidade.

            É desse embate entre o arcaico e o moderno que nasce o Modernismo no Brasil, com mais força a partir da Semana de 1922, emergido de um desejo de renovação e com olhares tanto para os problemas nacionais quanto para as inovações artísticas produzidas na Europa.

            Um exemplo de obra modernista é a tela Estrada de ferro Central do Brasil foi pintada por Tarsila do Amaral (1886-1973) em 1924 depois de sua viagem a Minas Gerais, juntamente com os modernistas. Essa obra integra a fase “Pau-Brasil” da artista, em que temas e cores nacionais são abordados e trabalhados. Nela estão presentes o desejo de modernização e industrialização do país através das figuras selecionadas pela artista para compor sua obra.


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Tarsila do Amaral - Estrada de Ferro Central do Brasil - 1924
            Causada pelo fim da escravidão (1888), a falta de braços na agricultura obrigou o governo brasileiro a criar políticas que favorecessem a imigração de trabalhadores livres de outros países. Esses trabalhadores, sobretudo italianos, trariam da Europa os ideais anarquistas, que, agregados com as notícias da Revolução Russa (1917), criaram um ambiente favorável às revoltas e aos questionamentos da realidade brasileira. Os imigrantes em primeiro momento foram empregados nas lavouras do interior, mas logo migraram para os centros urbanos e capitais, sendo empregados nas indústrias e favorecendo o desenvolvimento industrial do Brasil, o crescimento e adensamento populacional de cidades e capitais do sudeste, e a formação da classe operária brasileira. Incentivou ideias sindicais e o primeiro movimento de greve geral de São Paulo. Outra presença imigrante de grande importância para o Brasil foram os japoneses.

O PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL

Contexto histórico do Pré-modernismo no Brasil

            Nas duas primeiras décadas do século XX, a chamada política do “café com leite”, em alusão à alternância de políticos mineiros e paulistas na presidência da República, estava no seu apogeu, o que acentuou os contrastes regionais e as dificuldades encontradas pela República Velha, fazendo eclodir diversas revoltas populares, sobretudo no Nordeste, que se sentia cada vez mais negligenciado pelo governo.

            No mesmo período, ocorreu a grande entrada de imigrantes estrangeiros no país e a explosiva urbanização de São Paulo, o que favoreceu a criação de uma classe operária urbana. Nesse clima de descontentamento, socialistas e anarquistas passaram a atuar, gerando movimentos populares, revoltas e greves. O país se debatia entre o arcaico e o moderno e procurava compreender as contradições que surgiam a partir dessa situação.

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Colonização italiana no sul do Brasil

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Imigração japonesa no Brasil
            Os autores das literatura brasileira do período retiraram desse quadro social os temas de suas obras, num esforço de denunciar, por meio de suas produções literárias, os outros “brasis” existentes: aquelas regiões abandonadas e completamente desassistidas pelo governo. Dessa forma, buscavam discutir os problemas sociais do Brasil e seus contrates, fosse no âmbito geográfico (interior arcaico versus litoral progressista), fosse no âmbito social (periferia urbana empobrecida versus centro urbano industrial).


O Pré-Modernismo no Brasil: literatura

            O Pré-Modernismo é o período literário que compreende as duas primeiras décadas do século XX e que, acima de tudo, discutiu a realidade social e política do Brasil. Didaticamente pauta-se por critérios cronológicos e está compreendido entre 1902 – ano da publicação de Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), e de Canaã, de Graça Aranha (1868-1931) – e 1922 – ano da realização da Semana de Arte Moderna, em São Paulo. O período conta com grande diversidade de estilos e autores. Conviveram durante esse período tendências conservadoras e renovadoras.
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Os Sertões de Euclydes da Cunha - Edição do livro de 1902
            A postura conservadora é aquela em que ainda há traços positivistas e deterministas que fundamentaram o Realismo e seus desdobramentos (Naturalismo, Simbolismo e Parnasianismo). Já na postura renovadora, o grupo de escritores se preocupou em incorporar a realidade ao fazer literário, de maneira crítica, apresentando, dessa forma, uma maior preocupação político-social em suas obras.

Principais autores e obras pré-modernistas

            Graça Aranha nasceu em São Luís do Maranhão. Formou-se em Direito, mas exerceu também a carreira diplomática. Em 1902 publicou Canaã, romance que retrata a imigração europeia no Brasil.
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Graça Aranha - Canaã - Edição de 1902
            Após um período trabalhando no exterior como diplomata, retornou ao Brasil em 1920. Imbuído do espírito vanguardista da Europa e, de certa forma, recusando seu passado acadêmico, engajou-se na proposta dos modernistas.

            A adesão de seu nome ao jovem grupo facilitou os rumos da Semana de Arte Moderna de 22. Graça Aranha, embora tenha preferido a conferência de abertura da Semana, não pode ser considerado integrante do grupo.

            Os Sertões (1902) é uma obra considerada marco na literatura brasileira, pois nela Euclides da Cunha registrou as verdadeiras condições de vida do sertanejo nordestino. É referência obrigatória para o estudo do homem brasileiro no período, no que diz respeito à sua miséria existencial e dos canais importantes para enfrenta-la.

            Lima Barreto (1881-1922) procurou sempre em suas obras denunciar as mazelas da sociedade brasileira. Mestiço e vítima de preconceitos, incorporou situações de sua vida em seus escritos. Ironia, sarcasmo e crítica são presença constante em seus textos. Na literatura brasileira, Lima Barreto foi um dos primeiros autores a escrever e lutar contra o preconceito racial e a discriminação social do negro.

            Essa abordagem pode ser percebida nas obras Clara dos Anjos, Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá e, sobretudo, em Recordações do escrivão Isaías Caminha. Sua principal obra foi Triste fim de Policarpo Quaresma.

            Ambientada no final do século XIX no Rio de Janeiro e narrada em terceira pessoa, Triste fim de Policarpo Quaresma (1911) trata dos ideais frustrados de um funcionário público metódico e fanaticamente nacionalista, Policarpo Quaresma. Nessa obra, Lima Barreto traça um rico painel dos subúrbios cariocas na virada do século e aborda o tema da luta entre o idealismo e a realidade.

            Monteiro Lobato (1882-1948) é aclamado por sua produção infantojuvenil e pelos personagens do Sítio do Picapau Amarelo: a boneca Emília, o Visconde de Sabugosa, o Marquês de Rabicó, a Narizinho, o Pedrinho, a Dona Benta e a Tia Nastácia. Seu texto é marcado pela análise crítica da natureza humana e da realidade brasileira e utiliza, para tanto, fantasia e irreverência.

            No início do século XX, os livros brasileiros eram editados em Paris ou Lisboa. Indo contra essa tendência, Monteiro Lobato editou e publicou livros no país e foi responsável por uma série de inovações nos livros didáticos e infantojuvenis. Além disso, pintou aquarelas e fez a ilustrações de algumas edições de suas próprias obras (a primeira edição de Urupês, por exemplo). Lobato também publicou no Brasil muitos autores da literatura mundial. Além de tudo isso, Monteiro Lobato atuou também com crítico de arte, escrevendo textos em que expunha seu pensamento em relação aos artistas modernistas e suas obras.

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            Os livros de contos Urupês (1918), Cidades mortas (1919) e Negrinha (1920) são representantes importantes da temática pré-modernista de Lobato, ao abordarem o descaso do governo com as cidadezinhas do Vale do Paraíba paulista, com suas casas de tapera, ruas mal iluminadas, políticos corruptos e um cotidiano de ignorância e miséria.

            O documento social foi um tema recorrente em Lobato. Além de tratar de temáticas regionais, dedicou-se também à análise dos problemas nacionais do começo do século XX, criticando alguns dos absurdos de nossa organização econômica, social e política, denunciando a corrupção nas esferas governamentais e propondo soluções para os velhos problemas nacionais. Mr. Slang e o Brasil (1927) e O escândalo do petróleo (1936) são notáveis exemplos de obras que tratam das questões brasileiras.

            O personagem Jeca Tatu simboliza o atraso e a ignorância do homem rural paulista, responsável pela devastação das matas, pela prática da queimada e pela decadência da agricultura da região. Em 1947, surge o personagem Zê Brasil, em obra homônima, uma retomada mais ampla e ideológica do Jeca Tatu que aponta o sistema econômico brasileiro como o grande causador da miséria da população.


            Outro autor importante, porém de menor abrangência, até mesmo por ter produzido uma única obra intitulada Eu (1912), foi Augusto dos Anjos (1884-1914). O autor escreveu sonetos e poemas que faziam uso de termos científicos da época e temáticas incomuns para a literatura até então.


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Jeca Tatu - Filme de 1958 estrelado por Mazzaropi
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Jeca Tatu interpretado por Mazzaropi
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Jeca Tatu interpretado por Mazzaropi
A ARTE MODERNA NO BRASIL

O nascimento do Modernismo Brasileiro

            Embora associado à Semana de Arte Moderna de 1922, o modernismo no Brasil data de 1917. Em dezembro desse ano, foi inaugurada em São Paulo uma polêmica exposição expressionista da jovem Anita Malfati (1889-1964). Anita dedicou-se à pintura desde que aprendeu a usar a mão esquerda, pois nasceu com um defeito congênito na direita. Sua primeira professora foi sua mãe. Mais tarde, financiada por um tio, foi para Berlim, onde viveria de 1910 a 1914. Na Alemanha, entrou em contato com o Expressionismo, então no auge.

            Com o início da guerra na Europa, Anita mudou-se em 1915 para Nova York, onde teve mais contato com a arte contemporânea. Por quase dois anos, conviveu com artistas de vanguarda, como Marcel Duchamp. Em 1916 desembarcou no Brasil com a bagagem dessas duas estadas. O descompasso com o público no Brasil ficaria evidente na exposição do ano seguinte – 1916. As figuras distorcidas e as cores carregadas, em quadros como A mulher de cabelos verdes e O japonês, provocaram impacto no público e na crítica. Entre os críticos destacou-se o escritor Monteiro Lobato, adepto da arte naturalista. Ele publicou um artigo violento qualificando a arte de Anita Malfati de “anormal ou teralógica”.

            O escritor Oswald de Andrade (1890-1954) defendeu a pintora, e a polêmica ajudou a fixar a exposição como “o estopim do Modernismo”, na expressão de Mário da Silva Brito, um dos maiores historiadores do movimento. As fortes críticas, no entanto, fizeram-na recuar do ousado projeto estético. Anita ainda participaria da famosa Semana de Arte Moderna de 1922, mas os modernistas aos poucos foram se afastando dela.

            Alguns críticos consideram o artista Lasar Segall (1891-1957) o precurssor do Modernismo, por uma razão cronológica: suas primeira exposição no Brasil, também expressionista, foi realizada em 1913. Porém, o evento não teve o mesmo impacto que o de Anita Malfati.

A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

            Desde sua viagem em 1912 à Europa, Oswald de Andrade insistia no fato de que se fazia necessário um movimento cultural que propusesse uma nova ordem artística baseada, fundamentalmente, nas ideias vanguardistas desenvolvidas na Europa, especialmente nas ideias futuristas. Por isso, é possível considerar que a Semana da Arte Moderna de 1922, ocorrida em São Paulo, já vinha sendo idealizada, pelo menos, dez anos antes.

            Durante esse período de “gestação”, ocorreram inúmeros fatos que dariam, mais tarde, consistência aos objetivos da Semana. A já citada exposição de 1913 de Lasar Segall, com suas telas expressionistas que chocaram a opinião pública. Em 1917, Oswald de Andrade conheceu Mário de Andrade (1893-1945); juntos formariam a base do Movimento Modernista. Em 1919 o grupo modernista conseguiu a adesão de Victor Brecheret (1894-1955), escultor consagrado em Paris que apoiava o movimento. Finalmente, em 1922, a partir do apoio financeiro de vários empresários, liderados por Paulo Prado (1869-1943), a exposição, que originalmente ocorreria em uma pequena livraria, foi transferida para o majestoso Teatro Municipal de São Paulo.
            Além disso, em 1922 seria comemorado o centenário da Independência do Brasil. Sendo assim, nada mais lógico que iniciar um movimento estético que propusesse uma revisão da arte e da própria noção de brasilidade naquele ano, o que aguçou em alguns artistas o desejo de fazer uma grandiosa mostra de artes que introduzisse definitivamente o país na modernidade. Portanto, um conjunto de fatores foi aos poucos reunido para construir um ambiente propício para a realização da Semana de Arte Moderna.

            A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um divisor de águas. Resultou da convergência de várias estéticas e dela emergiram outras tantas. Em 1920, Oswald de Andrade lamentou o estado de indigência das artes no Brasil e defendeu que a efemeridade do centenário da Independência, em 1922, fosse comemorada como “independência mental e independência moral”.

            Em sua viagem à Europa, em 1922, Oswald conheceria o Manifesto Futurista, do escritor ítalo-francês Filippo Marinetti. O texto aparece três anos antes, mas ainda influenciava a vanguarda europeia. O Futurismo defendia uma arte que captasse o impacto das novas tecnologias no cotidiano.

            Para Oswald, o movimento vinha ao encontro de suas inquietações estéticas. Ele, Mário de Andrade e Anita Malfati formaram o núcleo principal do movimento modernista. Mais tarde, com a pintora Tarsila do Amaral e o poeta Menotti Del Picchia, formaram o conhecido Grupo dos Cinco.

            Nas artes plásticas, ao lado de Anita, um dos grandes destaques da Semana de 22, um dos maiores articulares foi Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976). Ele não apenas criou o cartaz oficial do evento, como expôs 12 obras. Nascido no Rio de Janeiro, fez a ponte entre os modernistas cariocas e paulistas.

            Depois do evento de 1922, Di Cavalcanti viajou para a Europa, onde conviveu com artistas de vanguarda, como Picasso, Léger, Braque, Matisse e De Chirico. É dessa época o interesse pelas mulatas brasileiras, que marcaria sua obra.

            No final dos anos 1920, Di Cavalcanti filiou-se ao Partido Comunista e chegou a ser preso duas vezes. Em 1948, em uma célebre conferência no Museu de Arte Moderna de São Paulo, mudou de posição, criticou a arte abstrata e defendeu a arte realista e social.

            A Semana de Arte Moderna teve também música e literatura. Na música, a grande estrela foi Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Na poesia, além dos Andrade (que não eram parentes), havia Manuel Bandeira (1886-1962), que já publicara Carnaval, marco renovador na literatura nacional.

            Os barões do café financiaram o evento. O dinheiro veio a reboque do entusiasmo do intelectual Paulo Prado com o Modernismo. Herdeiro de uma das famílias mais ricas de São Paulo, tinha entre seus negócios fazendas de café, ferrovias e bancos. Por sua influência foi cedido o Teatro Municipal. Sob sua liderança, os cafeicultores financiaram a Semana, que teve também apoio oficial do governo de São Paulo.

            Com eventos nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro, a Semana consistiu em apresentações que intercalavam conferências, exposições, concertos e leituras de obras. Foram principalmente estas leituras que provocaram as previsíveis vaias. Havia muita incompreensão do público, a começar pelo rótulo de “futurista”, que, embora impróprio, os modernistas aceitaram para potencializar o impacto do movimento.

            O legado mais importante dos modernistas é ter colocado a cultura brasileira na pauta de debates. Para eles, a arte deveria refletir nossa condição de país americano, tropical, subdesenvolvido e, ao mesmo tempo, engajar-se nas discussões de vanguarda, adotando procedimentos modernos e internacionais.

MODERNISMO EM SÃO PAULO

            O Modernismo dos anos 1920 teve o epicentro em São Paulo. Na escultura, o maior destaque foi Victor Brechet. O artista estudou em Roma, voltou a São Paulo em 1919, e logo em seguida foi descoberto pelos modernistas. Brecheret teve suas obras exposta na Semana de Arte Moderna, embora na época estivesse em Paris como bolsista do governo de São Paulo. Suas esculturas são caracterizadas pela linearidade e pelo despojamento. Uma de suas obras mais conhecidas é o Monumento às bandeiras, instalado no parque do Ibirapuera, em São Paulo.

            Flávio de Carvalho (1899-1973), embora nascido em Barra Mansa, no Rio, fixou-se em São Paulo a partir de 1922, onde se tornou um dos pioneiros da arquitetura moderna no Brasil. Também escultor e pintor, liderou grupos de vanguarda nos anos 1930, como o Clube dos Artistas Modernos (CAM).

MODERNISMO NO RIO DE JANEIRO
            Embora São Paulo tenha sediado a Semana e atraído muitos artistas, no Rio de Janeiro também atuavam vários modernistas. Nascidos em Belém, no Pará, Ismael Nery (1900-1934) morou desde crianças no Rio. Depois de passar um período na Europa, tornou-se precursor do Surrealismo no Brasil. Suas obras influenciaram Di Cavalcanti, mas só foram valorizadas postumamente.

            O gravador e desenhista Oswaldo Goeldi (1895-1961) nasceu no Rio e estudou na Suíça. Influenciado por Edvard Munch, é considerado o pioneiro do Expressionismo no Brasil.

            Cícero Dias (1907-2003), ou modernista, deixou cedo Jundiá, em Pernambuco, fixando-se  no Rio. Nos asno 1930, passou a residir em Paris e interessou-se pelo Surrealismo.

            A partir de 1945, Cícero Dias tornou-se pioneiro da arte abstrata no Brasil. Nos anos 1960, voltou à pintura figurativa.

            Nascido em Nova Friburgo, Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) estudou na Alemanha e voltou ao Brasil em 1929. Paisagista, tinha sensibilidade moderna, mas nunca foi um iconoclasta.

PROGRAMAÇÃO DA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922

13 de fevereiro de 1922, segunda-feira
            A abertura do evento ficou a cargo do escritor Graça Aranha, membro da Academia Brasileira de Letras. Em sua conferência “A emoção estética na arte moderna”, o autor criticou a própria Academia por seu caráter conservador e passadista, atitude que lhe rendeu uma grande vaia. Durante a conferência houve declamações de poemas, e o pianista Ernâni Braga (1888-1948) executou, entre outras músicas, uma paródia da Marcha fúnebre de Chopin, o que resultou em mais agitações e vaias.

15 de fevereiro de 1922, quarta-feira
            A grande atração da noite foi a pianista Guiomar Novaes (1894-1979). Porém o fato mais marcante aconteceu durante a conferência sobre a estética e arte de Menotti Del Picchia (1892-1988), que contou com a participação de diversos músicos, bailarinos e poetas. A plateia já se manifestava com “relinchos e miados”, que atingiram o seu auge no momento em que Ronald de Carvalho (1893-1935) declamou o poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira, ausente no evento, que satiriza violentamente o conhecido poema “Profissão de Fé”, do parnasianismo Olavo Bilac (1865-1918), em que estão inscritos os princípios da estética parnasiana.

            O clima só se acalmou com a presença de Guiomar Novaes ao piano. Num intervalo, a plateia, excitada, parecida desejar danificar as peças em exposição. Mário de Andrade – heroicamente – inciou breve palestra sobre a estética modernista, tentando esclarecer ao público a natureza daquele arte ali exposta.

17 de fevereiro de 1922, sexta-feira
            Noite dedicada à música. O público já não lotava o local, e os anônimos pareciam mais tranquilos. Porém, quando Villa-Lobos subiu ao palco de casaca e chinelos, foi vaiado pelo público, que interpretou a atitude como futurista.

            A semana atingiu seu objetivo: sacudiu violentamente a arte estagnada, lançando um programa estético mais de acordo com as últimas tendências da Europa.

REVISTAS E MOVIMENTOS

            A Semana de Arte Moderna, como evento isolado, não obteve grande repercussão, nem entre o público nem entre a imprensa: os jornais da época não lhe reservaram quase nenhum espaço de divulgação. No entanto, a Semana teve grande importância histórica porque, entre outras razões:
  • Facilitou a convergência de várias tendências artísticas que visavam à renovação de sua linguagem;

  • Chamou a atenção da classe artística e concentrou suas realizações estéticas em torno das ideias modernistas, gerando mais coesão ao movimento.

  • Além disso, unir diversos artistas de manifestações distintas (pintores, escultores, músicos, escritores) permitiu uma poderosa troca de técnicas e de ideias entre os diferentes campos da arte.

             A Semana de Arte Moderna influenciou a atividade artística brasileira por todo o século XX. O tropicalismo, movimento musical de resgaste da brasilidade que surgiu na década de 1960, foi fruto do Modernismo.

            Realizada a Semana, vários manifestos e revistas surgiram com o objetivo de divulgar para todo o país suas conquistas. As revistas mais significativas foram Klaxon (1922), A Revista (1925) e Festa (1927).

            A Revista de Antropofagia foi lançada em São Paulo em maio de 1928 e sobreviveu até agosto de 1929. A publicação lançou o Movimento Antropofágico (ou antropófago), que defendia a “devoração” cultural das técnicas importadas dos países desenvolvidos, inspirado no ritual indígena da antropofagia, isto é, na crença de que o antropófago, comendo a carne do inimigo, absorve suas qualidades. Os movimentos mais importantes foram: Pau-Brasil, Verde-Amarelo e Antropofagia.

Muralismo

            O Muralismo teve grande desenvolvimento no México, na primeira metade do século XX. Com forte sentido político e social, o Muralismo encontrou ambiente propício depois da Revolução Mexicana de 1910.

            Os murais em geral narram a história do país e os feitos do povo. No México um dos expoentes do Muralismo foi Diego Rivera (1886-1957). Para ele, os grandes murais eram um meio de luta contra a opressão.

            Rivera passou uma temporada na Europa e absorveu a arte de vanguarda lá produzida, sobretudo o Expressionismo alemão, que ele mesclou com influencias da arte russa.

            Os outros dois grandes nomes do Muralismo Mexicano são José Clemente Orozco (1883-1949), influenciado pela arte americana, e David Siqueiro (1896-1974), que se inspirou no Surrealismo.

             
            A Revolução Mexicana, iniciada em 1910, teve como luta emblemática a busca pela revalorização da cultura indígena e a reforma agrária. Essa necessidade de terras gerou o início da revolução, que tinha como lema “Tierra y Liberdad”.


Muralismo no Brasil

            No Brasil, o Muralismo Mexicano teve influência sobre o trabalho de Di Cavalcanti e Cândido Portinari (1903-1962).

            Filhos de imigrantes italianos, Portinari nasceu em Brodósqui, no interior de São Paulo, e mudou-se para o Rio, onde estudou pintura. Nos anos 1930 ele passou a pintar murais. Seus temas são sociais, e sua abordagem cobre amplo espectro da história da Arte, indo da pintura renascentista (observada na perspectiva) ao Cubismo (na geometrização das formas).

            Uma das obras mais conhecidas de Portinari, Guerra e Paz, foi pintada entre 1952 e 1954. O nascimento da obra data de 1952, quando  a Organização das Nações Unidas – ONU sugeriu que cada país doasse uma obra de arte para sua nova sede em Nova York. O governo brasileiro escolheu Portinari para executar essa tarefa.

            Cada um dos murais tem 14 metros de altura por 10 de largura e pesam mais de uma tonelada. Eles só puderam ser transportados porque são formados por 28 placas de madeira como você pode conferir no detalhe do painel Paz, retirado da parte esquerda superior da obra.

O MODERNISMO NA ARQUITETURA BRASILEIRA

            Em 1929, Le Corbusier (1887-1965) visitou pela primeira vez o Brasil, onde uma geração de jovens arquitetos influenciados por ele escrevia seu nome na história. Entre eles, destacaram-se Lucio Costa (1902-1998) e Oscar Niemeyer (1907-2012). Ao longo de sua carreira, Le Corbusier viajou para muitos países, pois a intenção de realizar uma arquitetura universal que pudesse resolver tantos os problemas de planejamento das cidades quanto as necessidades mais básicas do homem –habitar, trabalhar, recrear e circular- despertou seu interesse em conhecer os mais diversos lugares. Quando divulgava e trabalhava suas ideias em países em desenvolvimento, encontrava os desafios para a adaptação aas climas mais quentes e as demandas urgentes por habitações populares, diferenças marcantes em relação à realidade da Europa.

            Na primeira visita ao Brasil, em 1929, o arquiteto franco-suíço realizou conferências sobre urbanismo. De vota à Europa, encantado com a paisagem carioca, levou consigo uma série de esboços que sugeriam um inusitado plano urbanístico: o arquiteto imaginou para a cidade um longo, sinuoso e contínuo edifício sobre pilotis que se instalava sobre os morros, atravessando a parte plana da cidade e contornando o Pão de Açúcar, formas curvilíneas que não foram usadas no Brasil, mas que mais tarde ele empregaria para um projeto na Argélia.

Projeto do Palácio Gustavo Capanema

            Desde a Semana de Arte de 1922, o Brasil já desenvolvera uma arquitetura moderna alicerçada no trabalho de competentes engenheiros, que aprimoravam a tecnologia do concreto armado, e de jovens arquitetos dispostos a conceber nova forma de construir.

            Essa arquitetura realizava, porém, com o ecletismo mais tradicional que ainda encontrava apoio no gosto público. A grande oportunidade da nova geração aconteceria somente em 1935, quando se anulou o concurso para o edifício do Ministério da Educação e Saúde, vencido pelo arquiteto Archimedes Memoria (1893-1960), com um projeto tradicional rejeitado pelo ministro Gustavo Cvapanema (1900-1985). A incumbência do projeto foi
Passada ao jovem arquiteto Lucio Costa, que convocou alguns colegas de sua geração: Affonso Eduardo Reidy (1909-1964), Jorge Moreira (1904-1992), Emi Vasconcelos (1912-1989), Carlos Leão (1906-1983) e o praticamente desconhecido Oscar Niemeyer (1907-2012), que fora aluno de Lucio Costa na Escola de Belas Artes.

            O projeto da equipe utilizou os cinco preceitos-chave “corbusianos” – a planta livre, a fachada independente, os pilotis, os terraços-jardins e os panos de vidro – e agradou ao ministro de ideias progressistas. Era importante para o governo do então presidente Getúlio Vargas ter seus edifícios oficiais construídos com estética que simbolizasse modernidade e transformação, mas uma comissão de autoridades convocada em 1936 para avaliar o projeto estrutural não o aprovou.

            Le Corbusier, o inspirador do projeto, foi então chamado à capital carioca para dar consultoria à equipe, sugerindo poucas mudanças. Em 1942, o edifício estava pronto, sendo considerado à época e até hoje um dos mais notáveis exemplos da arquitetura moderna.

Uma nova geração de mestres

            O projeto e a construção do Ministério da Educação e Saúde (Palácio Gustavo Capanema) e o contato com Le Corbusier foram decisivos para o desenvolvimento da arquitetura moderna no Brasil. De um lado, as controvérsias em torno do projeto e o extremo impacto obtido pelo resultado final serviram de plataforma para a divulgação das ideias, formas e estética dessa nova arquitetura, despertando o gosto do público e influenciando jovens arquitetos e estudantes; de outro, tal experiência fez amadurecer um grupo que, logo em seguida, marcaria época com seus projetos individuais.

            De Lucio Costa, destacaram-se os projetos do Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova York (1939), em parceria com Niemeyer; Guinle (1944) e a sede social do Jockey Club do Brasil (1956), ambos no Rio de Janeiro, e o Plano Piloto de Brasília (1957).

            Oscar Niemeyer foi, com certeza, um dos arquitetos mais ativos da arquitetura moderna brasileira. Construiu quantidade expressiva de edifícios no Brasil e no exterior. Sua singularidade está nas formas sinuosas que projetou levando em consideração as propriedades do concreto armado. São notáveis, nesse sentido, o conjunto da Pampulha (1943), em Belo Horizonte; a Casa das Canoas (1953) e o Sambódromo (1984), no Rio de Janeiro; o edifício Copan (1953), entre dezenas de construções para Brasília; o Museu de Arte Contemporânea; as mesquita de Argel (1968) e a Universidade de Constantine (1969), na Argélia.

            Do grupo que projetou o edifício do Ministério da Educação e Saúde, outro grande destaque é Affonso Eduardo Reidy, que, talvez por ter sido chefe do departamento de urbanismo da cidade do Rio de Janeiro, procurava fazer uma arquitetura discreta, menos preocupada com o impacto estético e mais com funcionalidade e a solução de problemas sociais brasileiros. Como funcionário público, foi responsável por grandes obras de urbanização, entre elas a do Aterro do Flamengo (1954-1959), parque de 7 quilômetros de extensão e mais de 1 milhão de metros quadrados, que recebeu paisagismo modernista de Roberto Burle Marx (1909-1994). Ali foi erguido outro projeto de Reidy, o Museu de Arte Moderna (MAM, 1952). Projeto também notável de sua carreira é o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (1964), também conhecido como Pedregulho, construído para abrigar funcionários do então Distrito Federal.

            Outro expoente da arquitetura moderna no Brasil é a ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). Seu trabalho mais conhecido é o Museu de Arte de São Paulo (Masp), de 1958. Considerado sua obra-prima, o edifício suspenso sobre quatro pilares vermelho possui o maior vão livre da América Latina. Outras obras importantes da arquitetura são o Instituto Pietro Maria Bardi, conhecido como Casa de Vidro (1951), e o Centro Cultural Sesc Fábrica Pompeia (1977), ambos em São Paulo.

A construção de Brasília

            A ideia ter uma capital federal no interior do Brasil era bastante antiga: já em 1761, o Marquês de Pombal (1699-1782) sugeriu tal ação, respaldada por dispositivo na primeira Constituição brasileira, de 1891, que previa a mudança da capital. O nome “Brasília” fora sugerido por José do Patrocínio, patrono da Independência, mas somente se tornaria realidade em 1960, quando o então presidente Juscelino Kubitscheck (1902-1976), simbolicamente fechou as portas do Palácio do Catete, sede do governo no Rio de Janeiro, transferindo a capital para o Planalto Central.

            O projeto de Lucio Costa para a nova capital foi escolhido por concurso do qual participaram importantes nomes da arquitetura brasileira: Henrique Mindlin (1911-1971), Rino Levi (1901-1965), Vilanova Artigas (1915-1985) e Joaquim Guedes (1932) foram alguns profissionais que entregaram propostas.

            O edital exigia soluções para o traçado básico da cidade, indicando a disposição dos principais elementos da estrutura urbana, a localização e interligação dos diversos setores, centros, instalações e serviços e a distribuição dos espaços livres e as vias de comunicação. O júri era composto por cinco arquitetos brasileiros, entre eles Oscar Niemeyer, e dois estrangeiros.

            Brasília pode ser considerada um trunfo do movimento moderno, pois foi projetada e construída a partir dos preceitos racionais que a caracterizam. Por seu valor histórico, foi considerada patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO, em 2001. A área tombada do Distrito Federal corresponde a 112,25km2 e compreende o Plano Piloto e as cidades-satélites de Cruzeiro e Candangolândia. É a maior área tombada do mundo, cujo tombamento atípico permite flexibilizações. Mas justamente por ser o modelo radical de cidade, que em outros países não passou do nível utópico, Brasília revela os problemas do pensamento urbano do movimento moderno, como sua escala monumental pouco acolhedora, as grandes distâncias a serem percorridas pelo pedestre de uso dos agrupamentos de construções como acontece no zoneamento tradicional, em que edifícios colados uns aos outros, no alinhamento da rua, mesclando comércio, escritórios e moradias, oferecem maior segurança e facilidades para as pessoas.

O MODERNISMO NA LITERARTURA BRASILEIRA

            O modernismo na literatura brasileira costuma ser dividido em três fases: primeira fase, de 1922 a 1930; segunda fase, de 1930 a 1945; e terceira fase, de 1945 aos anos de 1960 apenas para efeito didático, pois num mesmo momento convivem tendências opostas. Além disso, muitos escritores da primeira fase continuaram produzindo depois de 1930.

A estética da primeira fase modernista

            A primeira fase do Modernismo brasileiro, chamada de “heroica”, teve início em 1922 com a Semana de Arte Moderna de 1922 e prolongou-se até 1930. Embora houvesse grande diversidade de intenções estéticas entre seus participantes, pode-se afirmar que algumas propostas eram comuns a todos eles, na medida em que pregavam uma abordagem crítica e nacionalista da realidade brasileira.

            Além de reerguer a cultura brasileira sobre bases nacionais, essas propostas pretendiam promover uma revisão crítica do passado histórico e das tradições culturais, assim como eliminar o arraigado “complexo de colonizado”, para o qual tudo o que é bom vem de outros países, sobretudo da Europa.

            Essa fase foi considerada de desconstrução: era necessário fazer ruir uma série de conceitos de arte, de vida e de nacionalidade para que uma nova arte, uma nova linguagem e uma nova nacionalidade emergissem do processo.

            Os autores mais importantes dessa fase foram Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.


            Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram as lideranças intelectuais mais destacadas do modernismo brasileiro. Entre 1924 e 1927, Mário de Andrade empreendeu várias viagens pelo interior do Brasil a fim de conhecer os costumes, ritos e maneirismo de seus habitantes. Dessas pesquisas folclóricas nasceu o livro Macunaíma. Nele estão presentes as lendas, os regionalismo, os ritmos e as danças populares: todo o material coletado por ele se transformou por ele se transformou em ficção. Em Macunaíma é traçado o perfil do brasileiro comum, com seus defeitos e suas virtudes, construindo a saga do “herói sem nenhum caráter”. A mensagem do livro é clara: voltando-se para sua própria cultura, o Brasil poderia se salvar de permanecer um país eternamente colonizado, à mercê de estrangeiros.

            Macunaíma é a obra-prima em prosa de Mário de Andrade, além de ter sido também a maior realização em prosa da primeira fase do Modernismo brasileiro.

            Mário de Andrade atuou em praticamente todos os campos: poesia, prosa, crônica, música. Uma de suas facetas desconhecidas é a de fotógrafo, atividade à qual se dedicou depois da Semana de Arte Moderna, entre 1923 e 1931. Outro nome importante da fotografia a partir da primeira metade do século XX é o franco-brasileiro Pierre Verger (1902-1996). Etnólogo e estudioso das religiões africanas no Brasil, Verger fixou-se em Salvador.


A estética da segunda fase

            A segunda fase do Modernismo, por sua vez, admite uma nova postura: a de convivência com a tradição, e não sua desconstrução. Superando o “espírito demolidor” de 1922, mas dando continuidade ao ideal de experimentação, esses autores integram o moderno e o tradicional. Além disso, alguns escritores da “geração de 30” se preocupam mais em registrar os problemas da realidade brasileira do que em experimentar novas formas de linguagens.

            Podemos pontuar como principais autores desse período: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meireles (1901-1964), Vinícius de Moraes (1913-1980), Murilo Mendes (1901-1975), Jorge de Lima (1893-1953), Graciliano Ramos (1892-1953), José Lins do Rego (1901-1957), Rachel de Queiroz (1910-2003), Jorge Amado (1912-2001) e Érico Veríssimo (1905-1975).

A estética da terceira fase modernista

            Os escritores da “geração de 45” propunham a renovação da poesia pela forma e pela linguagem, pois, para eles, a princípio, a poesia é a arte da palavra. Tal princípio contraria a postura da geração anterior, declaradamente devota da arte politicamente engajada, de linguagem mais simples e direta com o intuito de conscientizar os leitores. Na prosa, o caminho é de manutenção de uma proposta intimista, já iniciada pela “geração de 30”, de abordagem psicológica e introspectiva. Nessa vertente, destaca-se Clarice Lispector (1920-1977), que surpreende o leitor com narrativas complexas em uma ficção inovadora. Por outro lado, o regionalismo assume uma dimensão mítica, com a recriação dos costumes (1908-1967), experimentador radical da linguagem, que alia o erudito ao popular.

            Na poesia, João Cabral de Melo Neto (1920-1999) faz o contraponto, pregando a poesia “da pedra”, produzida com rigorosa técnica e precisão expressiva. Une o trabalho formal a uma profunda mensagem social, com acurada visão dos problemas humanos. Sua poesia influenciou outras correntes literárias, como o concretismo.

O MODERNISMO e VILLA-LOBOS

            No Brasil, a partir da segunda década do século XX, o nacionalismo se confunde com o Modernismo, e o Modernismo com Vill-Lobos, o grande nome da música na Semana de Arte Moderna de 1922.

            Heitor Vill-Lobos é o músico erudito brasileiro de maior projeção e prestígio de todos os tempos. Muitas de suas composições continuam em repertório no país e no exterior.

            Villa-Lobos escreveu profusamente em vários gêneros: música sinfônica, orquestral, sacra, de câmara, dramática. No total, foram cerca de mil obras, que influenciaram de forma marcante a música brasileira. É o autor mais identificado com o Brasil moderno, aquele constituído a partir das raízes nacionais.

            O compositor é comumente descrito como gênio, mas não ficou isento de críticas. Estudiosos – como Mário de Andrade, que o admirava – percebiam em sua obra desigualdades, desequilíbrios e repetições. Ele também teria apelado a efeitos fáceis e se ressentido de uma formação erudita pouco ortodoxa. Mesmo entre os que apontam seus defeitos, porém, há o reconhecimento de que o saldo de sua produção é amplamente positivo.

Villa-lobos: compositor e educador

            Em 1915 teve início, no Rio de Janeiro, a carreira de Villa-Lobos. Inovador desde o início, ele provocava grande polêmica. A resistência não vinha apenas do público e da crítica, músicos mais conservadores recusavam-se a tocar suas partituras. Mas ele também tinha admiradores de peso, como o pianista americano de origem polonesa Arthur Rubinstein (1887-1982), que lhe abriria portas no exterior.

            Com esse perfil, Villa-Lobos era o nome ideal para brilhar na Semana de Arte Moderna, em que se apresentou sob vaias e aplausos. No ano seguinte foi a Paris, viagem viabilizada pelo mecenato do industrial Carlos Guinle. Ao chegar, declarou: “Não vim estudar com ninguém; vim mostrar o que eu fiz”.

            Villa-Lobos já tinha feito e ainda faria muita coisa que encantaria o mundo. Entre suas composições, destaca-se a série de choros (1920-1929), considerada por muitos sua maior contribuição à música moderna. O Choro nº05 (1925), também chamado de Alma brasileira, escrito para piano solo, é uma das suas músicas mais executada. Escreveu também Rudepoema (1926), dedicado a Rubinstein.

            O ciclo para piano A prole do bebê (1920-1921) também está ente os títulos mais conhecidos, assim como Momo precoce (1916), para piano e orquestra, e Danças africanas (1916), para orquestra, e Cirandas (1926), estas últimas para piano solo.

            O ciclo Bachianas brasileiras (1930-1945), em que ele mostra a afinidade com Bach, está entre seus trabalhos mais reconhecidos, sobretudo a nº02, para orquestra, cujo último movimento, “O trenzinho do caipira”, é umas das músicas mais executadas do compositor, com inúmeras adaptações, e a nº05, para soprano e oito violoncelos. Há também uma adaptação dessa música para voz e violão, instrumento que o compositor teria aprendido como autodidata e para o qual compôs estudos e prelúdios que integram o repertório de todo violonista.

            Villa-Lobos foi também importante educador musical. Embora sem paciência e tempo para acompanhar alunos individualmente, ele se dedicou ao ensino do canto orfeônico durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), quando juntava milhares de jovens para cantar em estádios de futebol.

            Certa vez, no Rio de janeiro, 40 mil escolares cantaram em até quatro vozes sob sua regência. Essa atividade era coordenada pela Sema (Superintedência de Educação Musical e Artística), órgão que ele assumiu em 1932.

            Além de educador musical, escreveu obras de interesse didático, como os 11 volumes do Guia prático para canto e piano, coro e conjunto instrumental (entre 1932 e 1949); Canto orfeônico (1940-1950) e Solfejos (1942-1946).


            O Guia prático é uma coletânea de 137 arranjos criados pelo compositor para a música folclórica brasileira.

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