AULA – 29/02
O
estilo gótico é identificado como o período das grandes catedrais. De fato, com
suas construções começaram a ser definidos os princípios fundamentais desse
estilo. O gótico teve início na França, novo centro de poder depois da queda do
Sacro Império, em meados do século XII, e terminou aproximadamente no século
XIV, embora em alguns países do resto da Europa, como a Alemanha, se estendesse
até bem depois de iniciado o século XV.
O
gótico era uma arte imbuída da volta do refinamento e da civilização na Europa
e o fim do bárbaro obscurantismo medieval. A palavra “gótico”, que faz
referência aos godos ou povos
bárbaros do norte, foi escolhida pelos italianos do renascimento para descrever
essas descomunais construções que, em sua opinião, escapavam aos critérios bem-proporcionados
da arquitetura. No entanto, nada podia estar mais longe da realidade.
Foi
nas universidades, sob o severo postulado da escolástica - Deus Como Unidade
Suprema e Matemática -, que se estabeleceram as bases dessa arte eminentemente
teológica. A verticalidade das formas, a pureza das linhas e o recato da
ornamentação na arquitetura foram transportados também para a pintura e a
escultura. O gótico implicava uma renovação das formas e técnicas de toda a
arte com o único objetivo de expressar a harmonia divina.
PINTURA
O
traço que mais identifica a pintura gótica é seu intencional naturalismo. Partindo
da premissa de que a representação do mundo real refletia a verdadeira natureza
divina da criação, os pintores do gótico elaboraram uma pintura carregada de simbolismo,
a fim de tocar emocionalmente o observador. O resultado foi a criação de uma
arte de linhas claras e cores puras, na qual era a cor que expressava o valor simbólico
da espiritualidade.
Em
estreito contato com a iconografia cristã, a linguagem das cores era
completamente definida: o azul, por exemplo, era a cor da Virgem Maria, e o
marrom, a de São João Batista. A manifestação da idéia de um espaço sagrado e
atemporal, alheio à vida mundana, foi conseguida com a substituição da luz por
fundos dourados. Essas técnicas e conceitos foram aplicados tanto na pintura
mural quanto no retábulo e na iluminação de livros. A finalidade primordial da
pintura gótica era ensinar a criação divina e, num sentido mais didático,
narrar as Escrituras para o maior número de pessoas, quase sempre analfabetas. Os
temas eram religiosos, tirados da tradição bizantina. Além das histórias da
Bíblia, representava-se também a vida dos santos e a iconografia de Cristo, particularmente
a crucificação, capítulo central da teologia da Idade Média.
ESCULTURA
A
escultura gótica está presente nas fachadas, tímpanos e portais das catedrais,
que foram o espaço idealpara
sua realização. Como a pintura, a escultura se caracterizou por um calculado
naturalismo que, mais do que as formas da realidade, procurou expressar a
beleza ideal do divino. Para isso, teve de recorrer às técnicas da antiguidade
clássica, ainda que sob as mesmas concepções adotadas depois pelos renascentistas.
O
fato é que se estava à procura de parâmetros para uma beleza ideal. As esculturas
que inauguraram o ciclo são as da catedral de Chartres. De uma beleza tranqüila
porém expressiva, logo se transformaram em modelo a ser seguido pelos demais
escultores. A princípio, as estátuas eram alongadas e não possuíam qualquer movimento,
com um acentuado predomínio da verticalidade, o que praticamente as fazia
desaparecer. Eram estátuas-colunas. As figuras vão adquirindo naturalidade e
dinamismo, as formas se tornam arredondadas, a expressão do rosto se acentua e
aparecem as aprimeiras cenas de diálogo nos portais. A separação em relação à arquitetura
é então um fato: as esculturas começam a se destacar como obras independentes.
As roupas ficam mais pesadas e se multiplicam as dobras, que já não são lineares
e rígidas, mas sim onduladas, expressivas e mais naturais. O programa das
catedrais góticas, como outros ramos da arte desse período, se baseava
principalmente nas histórias das Sagradas Escrituras. Depois, com o início do
culto à Virgem e ao Cristo, era muito comum encontrar cenas de sua vida nos
relevos dos tímpanos. Toda a iconografia cristã era representada dessa maneira
na pedra, e junto com os vitrais e a arquitetura constituíam a expressão mais
pura do misticismo medieval.
ARQUITETURA
A
arquitetura gótica se apoiava nos princípios de um forte simbolismo teológico,
fruto do mais puro pensamento escolástico: as paredes eram a base espiritual da
Igreja, os pilares representavam os santos, e os arcos e os nervos eram o
caminho para Deus. Além disso, nos vitrais pintados e decorados se ensinava ao povo,
por meio da mágica luminosidade de suas cores, as histórias e relatos contidos
nas
Sagradas
Escrituras.
A
construção gótica, de modo geral, se diferenciou pela elevação e desmaterialização
das paredes, assim como
pela especial distribuição da luz no espaço. Tudo isso foi possível graças a
duas das inovaçõesarquitetônicas mais importantes desse período: o arco em
ponta, responsável pela elevação vertical do edifício, e a abóbada cruzada, que
veio permitir a cobertura de espaços quadrados, curvos ou irregulares.
Somado a isso, um
sistema de suportes constituído de pilares cantonados e fasciculados, pequenas colunas cilíndricas e nervos,
junto com os arcobotantes, tornou a parede mais leve, até seu quase total desaparecimento.
As janelas ogivais e as rosetas acentuaram ainda mais a transparência da
construção. A intenção era criar no visitante a impressão de um espaço que se alçava
infinitamente até o céu.
A
primeira das catedrais construídas em estilo gótico puro foi a de Saint-Denis,
em Paris. Seu construtor, o abade Suger, aplicou na obra todos os princípios
escolásticos da época. Na leveza das paredes, na transparência da luz, na
elevada perspectiva das colunas, que desapareciam em direção ao alto, via o
abade a feliz consumação da harmonia divina.