AULA – 29/02
INTRODUÇÃO
A
arte românica, cuja representação típica são as basílicas de pedra com duas
apses e torres redondas repletas de arcadas, estendeu-se do século XI à primeira
metade do XIII. Seu cenário foi quase toda a Europa, exceto a França, que já a
partir do século XII produzia arte gótica.Apesar da barbárie e do primitivismo que
reinaram durante essa época, pode-se dizer que o românico estabeleceu as bases
para a cultura européia da Idade Média.
O
feudalismo era a nova ordem da sociedade de então, enquanto o Sacro Império ia
se firmando politicamente. Até esse momento, a arquitetura não diferenciava
formalmente palácios de igrejas, devido ao fato de o imperador, de alguma
forma, representar tanto o poder religioso quanto o temporal. Os beneditinos,
logo após as primeiras reformas monacais, foram os primeiros a propor em suas construções
as formas originais do românico.
Surge
assim uma arquitetura abobadada, de paredes sólidas e delicadas colunas
terminadas em capitéis cúbicos, que se distancia dos rústicos castelos de pedra
que davam seqüência à linha pós-romana. Na
pintura
e na escultura, as formas se mantêm dentro da mesma linha da arquitetura,
severa e pesada, completamente afastadas de qualquer intenção de imitar a
realidade e conseguindo, como resultado, uma
estética
dotada de certa graça infantil.
PINTURA
Originalmente,
as naves das igrejas românicas eram decoradas com pinturas murais de uma
policromia intensa e perfeitamente harmonizadas
com a arquitetura. Seus desenhos iam das formas da antiga pintura romana
aos ícones bizantinos, ocupando naves e absides. Os temas mais freqüentes
abordavam cenas retiradas do Antigo e do Novo Testamento e da vida de santos e mártires,
repletas de sugestões de exemplos edificantes.
Também
não faltavam as alegorias dos vícios e virtudes, representadas por animais
fantásticos, próprios de um bestiário oriental. As figuras não tinham nenhuma
plasticidade, e as formas do corpo apenas se insinuavam nas rígidas dobras dos mantos
e túnicas. Os traços faciais eram acentuados por contornos de traços grossos e
escuros. Os fundos apresentavam uma só cor, branco ou dourado, emoldurados por
frisos geométricos.
Para
desenvolver esse tipo de pintura mural, os artistas do românico em geral
recorreram às técnicas da pintura do afresco, misturando a tinta com água de
cola ou com cera. Por outro lado, é preciso mencionar também o trabalho que se
fazia então de iluminura de Bíblias e obras manuscritas. Cada vez mais sofisticado,
ele evoluía paralelamente à pintura formal, tanto em termos de estilo quanto de
desenvolvimento da técnica pictórica.
ESCULTURA
A
escultura românica desenvolve-se nos relevos de pórticos e arcadas com uma
exuberância inesperada e em perfeito contraste com as pesadas formas
arquitetônicas. A fusão das formas orientais de Bizâncio com as romanas antigas
resulta numa estatuária de caráter ornamental. O espaço em branco dos frisos,
capitéis e pórticos é coberto por uma profusão de figuras apresentadas de frente
e com as costas grudadas na parede.
O
corpo desaparece sob as inúmeras camadas de dobras angulosas e afiladas das
vestes. As figuras humanas se alternam com as de animais fantásticos, mais
condizentes com a iconografia do Oriente Médio do que com a do cristianismo. No
entanto, a temática das cenas representadas é religiosa. Isso se deve ao fato
de que os relevos, além de decorar a fachada, tinham uma função didática, já
que eram organizados em faixas, lidas da direita para a esquerda.
Devemos
mencionar também o desenvolvimento da ourivesaria durante esse período. A
exemplo da escultura e da pintura, essa arte teve um caráter religioso, tendo
por isso se voltado para a fabricação de objetos como relicários, cruzes,
estatuetas, Bíblias e para a decoração de altares. Os grandes reis também se
sentiram atraídos por essa forma de grandeza, encomendando aos ourives luxuosas
coroas incrustadas, bem como globos decorados e cetros de ouro.
O
românico coincidiu com as primeiras peregrinações na Europa. Para que uma
igreja fosse considerada um lugar de peregrinação, ela deveria possuir as relíquias
de algum santo, ou seja, seus restos mortais ou parte deles, ou algo que
tivesse pertencido a ele. Tais itens eram guardados em primorosas obras de
ourivesaria, como cruzes de fundo duplo de ouro ou esmalte, ou imagens ocas de
madonas com incrustações de pedras preciosas lapidadas rusticamente.
As
Sagradas Escrituras, em versões manuscritas elaboradas pelo trabalho paciente
de monges copistas, eram encadernadas em sólidas capas de ouro, pedras
preciosas e pérolas. As igrejas mais ricas revestiam seus altares com esses
mesmos materiais. Embora, a princípio, o estilo fosse um tanto primitivo, de
acordo com o espírito da época, se desenvolveram técnicas refinadas, entre as
quais se destacam a filigrana e o esmalte.
ARQUITETURA
Foi
nas igrejas que o estilo românico se desenvolveu em toda a sua plenitude. Suas
formas básicas são facilmente identificáveis: a fachada é formada por um corpo
cúbico central, com duas torres de vários pavimentos nas laterais, finalizadas por
tetos em coifa. Um ou dois transeptos, ladeados por suas fachadas
correspondentes, cruzam a nave principal. Frisos de arcada de meio ponto
estendem-se sobre a parede, dividindo as plantas.
O
motivo da arcada também se repete como elemento decorativo de janelas, portais
e tímpanos. As colunas são finas e culminam em capitéis cúbicos lavrados com figuras
de vegetais e animais. No conjunto, as formas cúbicas de muros e fachadas se
combinam com as cilíndricas, de apses e colunas. Nesse estilo destacam-se a abadia
de Mont Saint-Michel, na França, e a catedral de Speyer, na Alemanha.
Embora
hoje em dia os resultados dessa abordagem nos pareçam pouco sofisticados,
atrasados em relação às aquisições do império romano ou do Oriente em geral, o
românico significou em sua época um progresso para a Europa, esgotada e embrutecida
por inumeráveis invasões bárbaras que duraram quase cinco séculos. A paz que
Carlos Magno impôs na Europa reflete-se nesse estilo, fundamento de toda a cultura
que se seguirá a ele.
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