terça-feira, 2 de agosto de 2016

ABSTRACIONISMO



INTRODUÇÃO

Entende-se por arte abstrata toda manifestação das artes plásticas, seja na pintura ou na escultura, na qual se desistiu da representação natural ou ilustrativa da realidade, para dar vazão a composições independentes dela. É preciso esclarecer que não é possível se falar de uma arte abstrata própria e unificada. Na verdade, houve dentro dela várias correntes, que às vezes estavam muito próximas quanto à sua filosofia, outras vezes muito afastadas, mas todas se mantinham sempre dentro do limite não-figurativo.

Wassily Kandinski
O pintor russo Kandinski foi o primeiro artista propriamente abstrato. Suas teorias sobre a abstração das formas como expressão do espírito humano determinaram uma mudança substancial na pintura e escultura do século XX. Juntamente com ele, Piet Mondrian, da corrente neoplástica, propôs a redução às formas geométricas puras de tudo aquilo que fosse representável. Essa foi uma proposta dos cubistas que o pintor levou a extremos totalmente não-figurativos, com a conseqüente racionalização da pintura.

 
Wassily Kandinski
Wassily Kandinski
 O fato de os artistas mais representativos da arte moderna européia terem-se mudado para os Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, foi muito significativo para a difusão da arte abstrata. Muitos deles, convidados pelas universidades, deixaram entusiasmados os jovens artistas americanos, e lá fundou-se a American Abstracts Artists, precursora da vanguarda expressionista abstrata. Donos de galerias e colecionadores apoiaram o desenvolvimento dessas novas tendências e gerou-se um mercado artístico dinâmico.
Piet Mondrian - Composição II em vermelho, azul e amarelo - 1930

                                              Broadway Boogie-Woogie 1943

A arte abstrata encontrou finalmente seu lugar nas galerias e coleções de uma sociedade moderna e pujante, principalmente depois de superada a crise da depressão dos anos 30.Enquanto isso, a Europa do pós-guerra retomou as tendências abstratas, mas agora sob a ideologia das novas filosofias existencialistas, que entendiam a atuação do artista como um compromisso vital com uma sociedade devastada e desolada pelo terror e pela violência.

 PINTURA

A partir das obras dos pintores mais representativos das vanguardas européias, como Kandinski, Duchamp, Delaunay e Picasso, entre outros, surgiu uma pintura que subsistiu durante o período que medeou as duas guerras e veio à luz após a Segunda Guerra Mundial. A complexidade de motivações e a diversidade desses artistas produziram grupos diferentes, com traços específicos de estilo e certas técnicas que dificultam uma classificação estilística geral da pintura abstrata.


Jackson Pollock - Confergence - 1930
Assim, dentro dessa vasta diversidade que ocorre dentro da vanguarda do século XX, determinou-se, de modo muito superficial, a existência de duas grandes categorias, citadas de modo resumido a seguir. Não se pode esquecer que muitas correntes aconteceram simultaneamente, outras surgiram do desenvolvimento das anteriores e finalmente existem as que emergiram da total oposição representada por alguns artistas individualmente. A priori, então, e simplificando, pode-se falar de duas categorias.

De um lado a pintura abstrata lírica, de conteúdo simbólico e gestual, com uma atitude totalmente animista e subjetiva diante da obra, que parte de Kandinski e evolui na obra dos expressionistas americanos: Pollock, Kline, De Kooning e Motherwell, entre outros. Também estão nesta categoria as vanguardas do pós-guerra europeu, como o informalismo, representado por Fautrier, Dubuffet e Millares, e mais tarde por Bacon, ou o grupo Dau al Set, no qual se inclui o pintor Tapies.
Jean Dubuffet - 1984
Jean Dubuffet - Monument with the standing beast
De outro lado, desenvolve-se a pintura abstrata geométrica, totalmente independente da visão subjetiva, que a partir do cubismo evoluiu para um racionalismo matemático, representado pelas formas e cores puras. É o caso dos neoplásticos da Holanda, como Mondrian ou Van Doesburg, o suprematismo de Malevitch e o construtivismo russo. Também devem ser incluídas aqui as obras de Vasarely e Cruz-Díez.

Victor Vasarely - Vega-Nor - 1969
ESCULTURA

A escultura abstrata se caracterizou pelo afastamento dos moldes naturalistas, em favor da representação das formas geométricas puras, mais racionais, ou as simbólicas, consideradas uma síntese das formas orgânicas. É preciso, no entanto, falar de peças, objetos e instalações, já que o tridimensional se desenvolveu a partir da combinação de materiais completamente alheios aos que a escultura havia conhecido até então, com exceção do dadaísmo e do cubismo.

A partir da arte abstrata o limite entre escultores e pintores se dissolveu ainda mais. Por isso, embora se faça referência a artistas dedicados principalmente à escultura, como Henry Moore ou Constantin Brancusi, houve muito outros que fizeram experiências interdisciplinares, como os neoplásticos holandeses ou os minimalistas americanos e ingleses. Na escultura abstrata surgiram correntes diversas, muitas vezes de acordo com as da pintura, que possibilitam sua classificação.

Constantin Brancusi - O Beijo - 1910
A escultura orgânica, que tem seus antecedentes mais imediatos no dadaísmo, agrupou todos os artistas que ainda buscavam a representação da subjetividade humana e de seu próprio simbolismo interno, sem abandonar totalmente as formas figurativas. Quanto à escultura racionalista, ela se caracterizou pelo rigor de suas formas volumétricas, chegando em alguns casos, como os neo-abstratos, a reduzir a função da escultura à mera ocupação do espaço.
Henri Moore - Reclining Figure - 1951
Henri Moore - Hill Arches - 1972-73
A exemplo da pintura, a escultura abstrata chega ao auge graças ao interesse que despertou em marchands e colecionadores e aos programas estatais que deram aos artistas oportunidade de popularizar suas obras, utilizando-as na decoração urbana. Como ocorreu antes, com os mecenas do renascimento, as cidades passaram por uma renovação estética em que as novas peças da arte abstrata se integraram, em praças e calçadas, com as mais importantes dos séculos passados.

ARQUITETURA

Distanciados de todo academicismo, os arquitetos do chamado Movimento Moderno deixaram para trás as tendências históricas, para criar uma arquitetura isenta de adornos supérfluos ou de referências ao passado. Surgiu assim uma arquitetura racional, de formas geométricas puras, que revalorizou o espaço e a funcionalidade, com edifícios simples, de grandes superfícies transparentes. As grandes cidades, a especulação financeira e os novos materiais favoreceram esta nova arquitetura.

Os engenheiros, convencidos de sua capacidade de criar edifícios tão básicos na aparência, produtos da criatividade, mas também da tecnologia, passaram a competir com os arquitetos abstratos. Entre os primeiros racionalistas destacou-se a escola Bauhaus, com suas propostas de linhas simples, em que interiores e exteriores se fundiam, criando espaços homogêneos. Exemplo disso é o pavilhão alemão da Exposição Universal de Barcelona (1921), de Mies van der Rohe.

Bauhaus
Na Holanda, por sua vez, os arquitetos do grupo De Stijl chegaram às mesmas simplificações, dessa vez influenciados pela sutileza e praticidade da arquitetura japonesa. A arquitetura construtivista russa propôs moradias do tipo celular, ou seja, poliambientais, na construção de fábricas e clubes de operários.Mas sem dúvida o auge do funcionalismo chegaria com o francês Le Corbusier, cujas formas volumétricas simples se adaptaram tanto às moradias quanto às fábricas.

Frank Lloyd Wright - Casa d0 cascata 
Frank Lloyd Wright - Wayfarers Chapel
O mesmo ocorreu na América, principalmente após a chegada dos arquitetos europeus, cujas teorias funcionais tiveram grande aceitação no seio das universidades. Experimentava-se então ali a criação de uma nova arquitetura anti-historicista. A única exceção foi o arquiteto Frank Lloyd Wright, cujas obras, a meio caminho entre o caráter orgânico do modernismo e o novo racionalismo, estão entre as mais singulares do século XX.

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