Em primeiro lugar, eles pensaram em
construir imagens que representassem não apenas um lado do objeto (como uma
fotografia faz), mas sim todos os lados de um objeto em uma única tela plana.
Queriam que o expectador pudesse visualizar todo o objeto representado de uma
única vez. Para isto realizaram pinturas em que representavam cada fragmento do
objeto-tema (um violão, vaso de flores, etc) em uma parte do quadro, gerando
assim uma imagem formada por varias partes como um mosaico. O objeto
representado ficava deformado. A intenção de representar todas as faces de um
objeto sobre uma tela plana só foi conseguida de fato e satisfatoriamente anos
mais tarde com a invenção do cinema que produzia sequencia de imagens que
traziam a sensação de movimento.
A intenção de representar as varias
faces dos objetos também trouxe para a arte, não pela primeira vez, mas de
maneira mais forte, a idéia de vários planos e varias dimensões para
representar uma imagem. Seria como se varias pessoas fizessem uma fotografia de
uma arvore cada uma de uma posição (ponto de vista, paradigma) diferente e
todas as fotografias fossem recortadas e coladas em um único papel para que
pudéssemos ver os vários ângulos da arvore de uma única vez.
Os cubistas Pablo Picasso e Georges Braque
foram também os primeiros a inserir recortes de revistas, jornais e outros
objetos em telas para interagirem com a pintura. Com isto chamaram a atenção
para uma característica tão simples da pintura mas que por alguns momentos
perdemos no ato de admirar uma tela. A característica de que uma pintura é
apenas uma pintura, ou seja, muitas vezes olhamos para a pintura de uma
paisagem ou um vaso de girassóis com a intenção de ver uma paisagem ou um vaso
de girassóis, sem nos lembramos de que é apenas uma representação, apenas tinta
na tela que produz a sensação. A partir deste ponto podemos entender então a expressão
de Michelangelo no século XV de que "arte
é sobretudo coisa menta", e Raffaelo ainda disse na mesma
época: "eu não pinto
com a mão, e sim com o cérebro". Com tudo isto Picasso e
Braque estavam demonstrando, assim como Michelangelo e Raffaelo tentaram dizer,
que a obra de arte acontece na mente (ou no cérebro) de quem observa, e que o
objeto artístico (a pintura na tela, o desenho, ou uma escultura) serve apenas
para sensibilizar o expectador. Assim a pintura é apenas tinta na tela e as
sensações causadas por ela, como por exemplo um rio correndo são percepções geradas
pela ação do olhar refletida no cérebro ou mente do expectador. Além disto
tudo, dizer que arte é coisa mental também significa que o artista primeiro
pensa o que ira pintar, observa e entende a cena para depois realizar a pintura
na tela, ou seja, a pintura acontece primeiro na mente do artista.
Picasso crio pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, cerâmicas, objetos artísticos, e fotografias. Sua carreira foi muito diversificada e longa. Em uma fase mais madura seus desenhos eram bem simples e se pareciam com desenhos de crianças, e não possuíam muito rigor técnico. Esta aparência era intencional. Picasso dizia que um artista deveria pintar com pureza e naturalidade, sem ter preocupações muito rigorosas com o que o desenho iria parecer, apenas desenhar como conseguisse e como achasse belo, assim a obra de arte comunicaria melhor alma do artista e seria mais bela pelo que representava do que pelo que era fisicamente. Por isto Picasso declarou que "Em poucos anos aprendeu a desenhar como Raffaelo, mas levou a vida toda para aprender a desenhar como uma criança".
Baseado em : STANGOS, Nikos (org). Conceitos da Arte Moderna,
Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2000.
VOCABULÁRIO
Vanguardista - aquele que vai a frente,
novo.
Fragmento – parte separada.
Interagir – funcionar em parceria.
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